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Aconteceu o 3º Encontro, em Montenegro
Data: 29/03/2013

O nosso 3º Encontro de Pesquisadores do GenealogiaRS, em Montenegro, dia 23 de março de 2013, foi um absoluto sucesso, tanto pelos seus conteúdos programados, como pelo grande número de participantes.

Pelas 8h da manhã, compareceram mais de cinquenta colegas, convidados pelo colega Eduardo Kauer, para conhecer o Memorial da Imigração Alemã, que está sendo construído em Montenegro. Durante a visitação, fomos brindados por um suculento café bem típico e original dos antepassados, com cuca, pão colonial, schmier, nata e linguiça fervida. Sobre este Memorial, aguardem maiores detalhes noutra reportagem.

Antes das 10h seguimos em caravana para o interior de Montenegro, para o nosso momento tão esperado, a palestra do Prof. Dr. Martin Norberto Dreher, sobre a Jacobina Maurer, o episódio dos Mucker.

O local, muito bonito e bem original quanto a assunto proposto, é a Casa da Atafona - www.casadaatafona.com.br - na localidade de Cafundó, Santos Reis. Ao meio dia foi servido um típico almoço da cozinha germânica, regado a tradicional “Spritzbier”.

Pela tarde após o almoço e momento de descontração, seguiu-se a palestra do Dreher, sobre a Jacobina. No fim desta página, está postado um resumo da palestra.

Ao nosso palestrante Dreher, somos muito agradecido pela exposição e oportunidade de ter um olhar diferenciado com um “par de óculos” novos, sobre esta mulher, que certamente, estava muito á frente de sua época em que viveu.

Algumas fotos do local.

O anfitrião nos dando as boa vindas

Porfessor Martin Dreher, iniciando a palestra, nos mostrando uma relíquia,

confecionado por uma antepassada da família, onde se lê:

"DIE MIT THRÄNEN SÄEN, WERDEN MIT FREUNDEN ERTNEN"

"Os que semeiam com lágrimas, colherão com alegria". Salmo 126,4-5

Local da palestra

 

As muitas perguntas pelos participantes ao porfessor Dreher

Momentos de uma boa conversa ao sol, entre a natureza

A espera do almoço...

Um antigo moinho de farinha, hoje servido como história

Isso, fazem mais de cem anos, e nada mudou...

 

Muita natureza....

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JACOBINA MENTZ

“Afetos e Circunstâncias”

Palestra do Prof. Dr. Martin Norberto Dreher

Local: Casa da Atafona, Cafundó, Santos Reis, Montenegro.

Data: 23 de março de 2013

Promovido pelo GenealogiaRS, em seu 4º Encontro de Pesquisadores e Genealogistas.

Objetivo: Apresentar as principais fontes históricas sobre o episódio dos Mucker, fazendo uma análise de quem as escreveu e da época em que foram escritas, tentando dar-nos "novos óculos" para ver o episódio no contexto de sua época.

As principais fontes são:

- o Padre Schupp que fez um relato para seus superiores na Alemanha, exagerando o aspecto moral, mas sempre só baseado no que ouviu falar e, consequentemente, o que queria entender.

- Carlos von Koseritz, que difundia o espírito liberal, materialista da época. Opõe-se à atuação de padres e pastores. Contraditoriamente, foi advogado dos Mucker no processo civil que correu contra alguns sobreviventes, sendo todos absolvidos. Seus relatos são um pouco mais objetivos, mas acentuam a ‘religiosidade’ como causa do movimento. (Koseritz era grande desafeto entre outros, de meu bisavô, Dr. Wilhelm Rotermund). Ambos mantinham jornais e ‘Kalender’ através dos quais se digladiavam. Koseritz integrava a Loja Maçônica da Rua Senhor dos Passos, frequentada pela elite alemã de Porto Alegre e da qual 'brotou' os hoje Colégio Farroupilha e Hospital Moinhos de Vento.]

- Aurélio Porto honra a memória dos imigrantes.

- Leopoldo Petry apresenta a história estereotipada e sob o ponto de vista das famílias dos adeptos do movimento Mucker. 

- Moacyr Domingues, que nos anos 1970 escreveu a obra A Nova Face dos Mucker, um trabalho mais imparcial e no qual desenvolve a genealogia das famílias envolvidas.

- Janaína Amado [sobrinha do escritor Jorge Amado] estuda o movimento na década de 1970 pela ótica marxista, analisando o episódio do ponto de vista econômico [os comerciantes acumuladores de capital espoliando os colonos pobres].

- Maria Amélia Schmidt Dickie [filha do médico de São Leopoldo - ex-aluna do Colégio Sinodal] estuda os autos do processo civil e faz um relato o mais objetivo possível, com base nos depoimentos das testemunhas e dos envolvidos. Analisa o episódio do ponto de vista de ‘afetos e circunstâncias’.

Alguns aspectos para entender o movimento:

- os colonos alemães estavam desamparados pelo governo brasileiro que lhes havia prometido escolas, estradas, etc. Muito pouco cumpriu dessas promessas nos cinquenta anos decorridos entre a chegada dos primeiros colonos e o auge do episódio. Não havia pastores - poucos padres (Jesuítas, na maioria), quase nenhuma escola, ‘picadas’ intransitáveis na época das chuvas, etc.

- especialmente os colonos protestantes estavam habituados a celebrarem Hausgottesdienste (cultos domiciliares), com cantos, leituras bíblicas e orações devido à falta de pastores.

- Jacobina Mentz, casada com João Maurer, era alfabetizada e oficiava Hausgottesdienste. Tinha influência do pensamento iluminista, materialista de sua época, tanto que seu avô fora expulso da cidade de Tambach (na Turíngia), refugiando-se em Würzburg (governada por um bispo católico), acusado de ‘separatista’. Seu pai emigrou para o Brasil.

- circulavam na colônia alemã livros que enalteciam o espírito ‘separatista’: por exemplo, uma Bíblia Ilustrada, escrita por pregador da cidade de Erfurt [a cidade de Lutero!!] e membro da Academia das Ciências Úteis.

- no Brasil o positivismo de Auguste Comte tinha muita força (Ordem e Progresso).

- O marido de Jacobina, João Maurer, praticava o que hoje se chama de “medicina alternativa, florais, etc.” mas que na época era chamado de curandeirismo. Muitas pessoas passaram a procurá-lo depois que foi conhecendo as ervas nacionais, cuja ingestão, aliadas ao bom clima da região do Ferrabraz, uma alimentação regrada oferecida por Jacobina e o descanso que os 'pacientes' tinham na casa dos Maurer, contribuía para o convalescimento de muitos.

[Ainda no início do século 20, o avô materno de minha esposa (Theodor Heinrich Carl Oldenburg) - que residia em Amaral Ribeiro, ou seja, nas proximidades do Ferrabraz - também era taxado de curandeiro porque lidava com ervas medicinais.]

- o nome Mucker já era usado na Alemanha para designar os pietistas; 'piedosos' que ficavam em grupo, murmurando orações, o que de longe diziam assemelhar-se ao som de abelhas.

- Havia muita desavença entre as famílias de imigrantes, às vezes por causa da ocupação da terra, da passagem de animais de uma propriedade para outra, etc. etc. Os Mentz e os Schreiner + os Müller não se davam por causa da eleição para a ‘câmara de vereadores’ no município de São Leopoldo ocorrida nessa época (um dos Müller só fez 6 votos na região do Ferrabraz). Lúcio Schreiner era delegado de polícia em São Leopoldo e também desafeto dos Maurer. Tudo isso contribui para a exclusão social dos Maurer e dos seus 'adeptos'. São os ‘afetos e circunstâncias’ aos quais a Prof.ª Maria Amélia se referiu em sua tese de doutorado.

- Jacobina tornou-se líder do movimento quando a população em geral passou a discriminar os que procuravam os Maurer. Como na época era absolutamente inconcebível que uma mulher liderasse qualquer movimento, ela foi qualificada como 'puta', algo que nenhuma das testemunhas do processo civil confirma, mas que impropriamente é retratado em cenas nos dois filmes rodados sobre o movimento: "Os Mucker", de Bodansky e "A Paixão de Jacobina" de Fábio Barreto, este baseado no romance "Videiras de Cristal" de Luiz Antônio de Assis Brasil. Nos depoimentos estudados pela Maria Amélia sempre de novo há a afirmação de que não houve adultério e que o Padre Schupp se deixou levar pelo espírito da sua época, afirmando que Jacobina até estimulara a troca de parceiros entre os casais. Ao que tudo indica, não foi assim!

- O desfecho do episódio foi horrendo, pois, como mais tarde em Canudos (1897) e no Contestado (1916), o governo, em vez de ouvir os 'rebeldes' e dar-lhes a assistência de que necessitavam, mandou o exército. No caso dos Mucker, os soldados eram a ralé que acabara de retornar da Guerra do Paraguai [não eram da Guarda Nacional que era integrada pela elite brasileira]. Esses soldados haviam praticado as maiores atrocidades contra tudo e todos no Paraguai e fizeram o mesmo com os colonos no Ferrabraz - saques, estupros, assassinatos, etc. A morte do Coronel Genuino Sampaio não está bem explicada - se foi assassinato perpetrado por soldado, cuja mulher estava sendo 'usada' ou se foi 'bala perdida'. 

Ainda a ponderar:

- No final do século 19, o Brasil e a Europa encontravam-se num momento de convulsão social e econômica. A predominância do agropastoril tende a passar para a atividade industrial. No Brasil, metade da população não era nascida aqui. Imigrantes italianos, alemães, poloneses, suecos, etc. etc. eram as Kaffeepflückmaschinen (máquinas de colher café); eram a nova versão de escravos. A isso soma-se a ‘libertação’ dos escravos negros, a proclamação da República, as ‘ditaduras’ da Primeira República, revoltas como a da Chibata [na Marinha], etc., etc.

- Getúlio decreta um Estado Novo, em 1937 com ênfase no nacionalismo [mais tarde com proibição do uso de idiomas estrangeiros] exatamente para tentar criar uma identidade nacional para este país que estava tão disperso.

Observações:

Este texto foi elaborado pelo colega Dankwart Bernsmüller, com a colaboração do colega Pedro Almiro Fauth.

Nélio J. Schmidt - Coordenador

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